quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Parece, mas não é.

O artigo de hoje poder-se-ia chamar “parece, mas não é”. Falaremos de expressões que são usadas quotidianamente e que parecem estar corretas.

Comecemos pela expressão *”enviar em anexo”. Todos nós recebemos e enviamos mensagens eletrónicas em que usamos a expressão supracitada quando queremos informar o nosso interlocutor de que existe um documento que segue com a mensagem.

Ora, o correto seria dizer e escrever “enviar anexo”, pois a expressão *“em anexo” é um galicismo a evitar. Na realidade, nós anexamos (verbo) um documento que segue anexo (adjetivo). Sendo um adjetivo, deve concordar em género e número com o nome (“segue anexo o documento”, “segue anexa a ata”, “seguem anexos os documentos”, “seguem anexas as atas”).

Napoleão Mendes de Almeida, na obra Dicionário de Questões Vernáculas esclarece, ainda, outros casos “em que não cabe em bom português o emprego da preposição em (…)”, pois “é francês o emprego da preposição em para indicar a matéria de que uma coisa é feita”. Assim, também devemos trocar *"estátua em bronze", por “estátua de bronze”, *”lenço em seda”, por “lenço de seda” ou *”anel em prata” por “anel de prata”.

Outro francesismo a evitar é a expressão “colocar uma questão”. À partida pensamos que estamos a usar um registo de língua mais cuidado ao utilizá-la em vez de “fazer uma pergunta”. Todavia, trata-se de uma tradução literal do francês “poser une question”. O verbo “colocar” (ou em alternativa “pôr”) são verbos que, em português, implicam a estrutura “ colocar/pôr alguma coisa nalgum lugar”. 

Podemos sempre dizer “formular uma questão” ou “apresentar uma questão”. 

Por fim, temos a palavra “fã” tantas vezes erradamente escrita como *“fan”. Este nome é um empréstimo do inglês fan, abreviatura de fanatic e significa o mesmo que admirador. 

De acordo com as regras de ortografia do português europeu, as palavras portuguesas não podem terminar em “-n” (com exceção das poucas que entraram tardiamente na língua portuguesa por via erudita, daí não terem sofrido praticamente alterações de grafia, como por exemplo: abdómen, cólon, éden, espécimen, glúten, hífen, hímen, líquen, pólen e sémen). Podemos dizer, pois, que esse “-n” é etimológico. 

De salientar que, segundo os linguistas Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, a consoante nasal “-n, em final de palavra, se pronuncia da mesma forma como em neve ou em nada. Referem, ainda, que as palavras terminadas em “–n” são graves, e a sua acentuação deve ser marcada com acento gráfico (ex: hífen). 

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